
A condenação das almas pecadoras ao inferno eterno é um dogma que foi estabelecido pela Igreja Católica, sendo mantido até a atualidade, inclusive aceito pelas religiões que surgiram a partir do movimento reformista do Catolicismo, liderado por Martinho Lutero e faz parte do islamismo, seita criada pelo profeta Maomé no começo do século VII. Diferentemente dessas religiões, esse conceito não está presente no judaísmo, que considera o “inferno” um local de sofrimento temporário, para a limpeza das almas até ascenderem a planos espirituais superiores. Conforme a Torá judaica (Velho Testamento): “Eu as fiz e levá-las-ei. Eu as trarei e salvá-las-ei”. (Isaías, 46:4); “não castigarei eternamente, e fim terá o meu rigor; porque de mim, saíram os Espíritos, e eu criei as almas”. (Isaías, 57:16). Considerando que tanto o Cristianismo como o Islamismo têm as suas raízes na Torá, podemos concluir que esse conceito de penas eternas em local de sofrimento tem a sua origem apenas na interpretação dos teólogos dessas religiões, que se basearam no Novo Testamento e no Alcorão, respectivamente.
Contudo, Jesus era um judeu falando para os judeus que seguiam a Torá e, utilizava-se de expressões fortes como “castigo eterno” (Mateus 25:46), “fogo eterno” (Mateus 25:41) e “atormentados para todo o sempre” (Apocalipse, 20:10), que não podem ser compreendidas em seu sentido literal, porque são figuras de linguagem. A interpretação equivocada da igreja romana pode ter tido a sua validade no passado, para controlar as paixões de criaturas ainda muito imperfeitas. Todavia, não se aplicam ao homem intelectualizado da atualidade, racional e crítico, que não consegue vislumbrar qualquer sentido lógico, pois, nenhuma falta humana pode resultar em uma condenação eterna. Seria um desmentido da sabedoria e bondade divinas. Essa visão punitiva de Deus está relacionada com as ideias primitivas da Humanidade, quando inexistia o perdão para os inimigos e ficou estabelecido a existência de um Deus vingativo e cruel. Segundo José Pellicer (Roma e o Evangelho, cap.19), “o inferno romano, substituindo o amor pelo terror, desnaturou completamente o gênio do Cristianismo; pois, não há dúvida de que o dogma que mais influi, no ânimo dos fiéis, é o da eternidade das penas que flutua nos corações, muito por cima do sentimento do amor e da caridade, pedra de toque do Cristianismo evangélico”. Essa condenação ao inferno eterno diverge da essência do Cristianismo, conforme ensinado e exemplificado por Jesus: “aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor”. (1 João, 4:8). O Mestre Nazareno também nos assegurou que das ovelhas que lhe foram confiadas (Humanidade), nenhuma se perderia (João,10:27-30).
O Espiritismo esclarece que não somos culpados pelos equívocos praticados, já que fomos criados simples e ignorantes; errar é uma consequência natural do Espírito ignorante nas suas experiências evolutivas na Terra. Todavia, somos responsáveis pelas iniquidades que praticamos, cujos efeitos estão diretamente ligados ao nível de consciência que possuímos. Entretanto, não existem pecados sem remissão e Deus perdoa os nossos equívocos, através das oportunidades reencarnatórias, a fim de realizarmos as reparações necessárias aos danos ocasionados à sociedade; não se trata de uma punição, mas de uma ação educativa, pois, se a semeadura é livre, a colheita é obrigatória. Felizmente, o sofrimento pode ser atenuado pela prática da caridade: “mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados”. (I Pedro, 4:8). Portanto, não existem penas eternas, sendo a felicidade o destino de todas as almas, que gradativamente superam as suas limitações morais, progredindo em amor e sabedoria e libertando-se das necessidades expiatórias em locais de sofrimento.